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  • Foto do escritorJulia Sprenger

Crítica - Conto "Urupês", de Monteiro Lobato

O conto “Urupês”, encontrado no livro com o mesmo nome, tem como autor Monteiro Lobato, famoso escritor brasileiro que ficou conhecido por seus livros infantis e por produções com temáticas tipicamente brasileiras - que é o caso do objeto desta crítica.

O conto apresenta o personagem Jeca Tatu, importante personagem nacional, conhecido por boa parte do povo brasileiro, e que dá origem a um estereótipo utilizado de maneira constante para se referir a um certo tipo de pessoa: os adeptos da “lei do menor esforço”. Jeca tem como sua maior característica sua herança genética: é caboclo. Para Monteiro Lobato, a miscigenação que chegou ao Brasil com os portugueses deu como frutos um povo improdutivo, preguiçoso e aproveitador. O personagem vive sua vida da maneira mais simples possível: “Mobília, nenhuma. [...] Nenhum talher. [...] Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. [...] Servem de gaveta os buracos na parede. [...] O fato mais importante de sua vida é sem dúvida votar no governo” e por aí vai. De herança indígena, essa figura traz “o pior dos dois mundos”: o comodismo português e a falta de inteligência e civilidade do povo que aqui vivia.

A generalidade com a qual o autor trata todo um povo é questionável. Monteiro Lobato foi, por diversas vezes, acusado de racismo. Esse texto não é de fato um dos maiores exemplos que traz seus preconceitos expostos, porém ele ilustra, ainda sim, uma opinião com caráter de julgamento e é capaz de formar opiniões coletivas de quem não conhece a realidade do caboclo.

A leitura do texto em si é bastante fácil e ilustrada. Tem uma escrita atípica para a época, uma vez que utiliza em sua construção palavras do vocabulário cotidiano. Não era comum que os grandes nomes da literatura fugissem da escolha de palavras mais rebuscadas, tendo em vista que o alvo da literatura era a classe mais abastada da população. A construção de imagens através da narrativa do autor facilita a criação da imagem do personagem, assim como do ambiente em que vive e das situações pelas quais passa em sua vida.

De maneira geral, a construção e a perpetuação de diversos preconceitos são advindas de obras como essa: sutis e desenhadas. Não obrigam que o leitor vá muito longe em sua reflexão pois trazem um personagem pouco complexo, inteiramente estruturado e muito bem descrito, e como consequência incutem no subconsciente de quem lê uma imagem formatada que permanecerá até que o contrário seja (ou não) levantado e apontado. Um ponto positivo, entretanto, levantado a partir da construção desse personagem, é a crítica silenciosa que aparece ao voto de cabresto e a relação do senhorio com seus empregados. A relevância, porém, só há de ser enxergada de uns tempos para cá, já que na época em que surgiu o texto as desigualdades sociais eram vistas e entendidas com pouca frequência e muito pouco se fazia para que essa realidade fosse exposta e alterada.


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